Como agem clientes bobocas

       Já vi muito! Nessa minha vida de vendedor de carros já atendi vários tipos de clientes, desde mulheres e homossexuais "me cantando" a quadrilha de estelionatários, mas sem dúvidas o que mais pisou pelas lojas onde passei foi o típico "boboca", onde a partir deste momento apresentarei um resumo sobre quem são e como agem essas pessoas. Será que you se enquadra neste perfil?

       Bobocas em geral chegam à minha loja caminhando muito tranquilamente, mãozinhas pra trás ou balançando devagar, começam olhando com desdém veículos mais caros, e logo que abordados são enfáticos:

   -   Tem Gol aê?

       Carro de boboca tem que ser VW, de preferência um Golzin. Para bobocas, os Volkswagen são os melhores carros do mundo! A manutenção é a mais barata, você não gasta quase nada; peça você acha até na farmácia da esquina (já imaginou, ir a farmácia comprar uma Aspirina, aproveitar e levar também uma bieleta esquerda do Gol?!) e na hora que você quer vender, rum, é só abrir a broca. E nem pense em mostrar a um boboca veículos das marcas Peugeot, Renault e Citroen, pois para esse público, estes veículos são "impochtados" e por isso "as peça são cara" e pra piorar, "dipois é ruim de vendê". Bobocas também fogem feito o diabo da cruz de veículos 16 válvulas. Para esse povo, "16 válva num presta". Agora pergunte o que é uma válvula... Sinceramente, não sei de onde o povão tira estes conceitos, mas vamos lá, continuando;

       Eis que na minha loja tem um Gol. Apresento-lhe, mas o boboca logo dispensa minha assistência. Me vê como um mercenário, que só quer vender (sic!). Retruca e pergunta se o carro é "16 válva". Depois pergunta quantos quilometro rodados ele tem. Para bobocas, quanto mais rodado, mais próximo do fim de sua vida útil um veículo está. Se estiver acima da média de 20.000 km ao ano, está muuuito rodado. Se estiver abaixo da média dos 10.000 km ao ano, tem alguma coisa estranha, como se todo veículo obedecesse a um padrão de quilômetros rodados, mas em geral bobocas preferem mesmo veículos pouco rodados. Por isso que a turma do "olé" ainda ganha muito dinheiro nesse Brasil.

       E lá vai o boboca, passando os dedos entre as portas, pra saber se a carroceria está desalinhada. Abre o porta-malas, olha o estepe, mas a parte mais engraçada é quando abrem o capô. A cara fingida de que sabem tudo o que se passa ali não tem preço!

       Momentos depois de baixar o capô, geralmente é a hora de se partir pras negociações. Após dito o preço, perguntam "quanto que dá pá quebrá". Digo que verei com o gerente. Eis então que vem aquela famosa pergunta fatal:

   -   Fais cein pucento?

       Nesse caso, é injusto jogar o ônus da culpa somente no boboca. Devido a regras impostas pelo sistema monetário brasileiro, os financiamentos sem entrada não são mais permitidos, onde ao menos 20% do valor total é exigido de início. O sonho de todo vendedor é a volta dos financiamentos 100%! Mas, continuando, depois que isso é explicado, o boboca me pergunta quanto fica com x de entrada. Hora do cafezinho. Vamos à minha mesa calcular?

       Como bom brasileiro que é, nosso cliente boboquinha não aceita negócio de igual pra igual. Quer sair ganhando, claro, e nós que nos danemos. Quer brindes como som, tanque cheio, películas, IPVA, transferência e ainda por cima desconto no preço do veículo. Diz que tem um veículo para dar na troca, e quer que paguemos por ele preço de mercado (muito sabido, meu "fí"...).

       Para clientes assim, carro só vai com over no preço, se não fica impossível de se conceder qualquer benesse, mas como nada é perfeito isso acaba esbarrando no fato de que clientes assim têm justamente o preço como fator determinante, um dos maiores erros do mercado consumidor. Bobocas nos trocam pela concorrência muitas vezes por mixaria. Já perdi venda pra loja vizinha por causa de um tanque cheio.

       Por fim, o boboca se levanta e diz que vai "oiá mais", quando na verdade é domingo, ele está sem nada pra fazer e vai especular ("caroçar") em lojas de carros. Logo estará de volta, questão de algumas semanas, sentado na mesa de algum colega (para clientes bobocas, vendedores são inimigos, portanto nunca são clientes fiéis) e tudo que já foi citado se repete.

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